Existem certas personalidades no mundo que não parecem conjugar da mesma realidade que nós, meros mortais. Uma delas é Maria Bethânia.
No entanto o novo documentário que aborda sua vida, ‘Maria – Ninguém sabe quem sou eu’, nos abre uma nova perspectiva sobre a artista.
Com direção de Carlos Jardim, a produção é simples, possui atitude, se desvencilha da banalidade de uma narrativa temporal e procura desvandar Bethânia.
Desafio este que não poderia ter melhor ambientação que o palco. O grande ator que contrascena com a protagonista ao longo das décadas agora acolhe a artista para abrir o jogo sobre sua vida.
Palco e Maria Bethânia estão em plano ao longo das quase duas horas do documentário. A montagem cria uma colagem de assuntos, que misturam as falas da artista com textos literários e um vasto acervo de apresentações.
Não saberemos o quão intencional foi a sequência de tópicos, mas não importa. Se dá naturalmente, e ganha o público por revelar a humanidade por trás da artista.
Se há uma mensagem sólida, evidente, em ‘Maria – Ninguém sabe quem sou eu’, esta é a humildade com que Bethânia se enxerga.
Uma humildade que lida com consciência e maturidade com fama, vaidade, influências, cultura e diversos outros aspectos de sua vida.
A humildade de reconhecer, em dado momento, do que representa o palco em sua vida. O ápice da vida é ali, na interpretação e na encenação, pois nestes ambientes Bethânia inventou sua existência.
Lá, aprendeu que a vida poderia ser um eterno subir em árvores, um ouvir dos assuntos dos mais velhos em jantares e o colo de dona Canô.
Que afortunada foi Maria Bethânia em ter a arte, e que afortunados somos nós em desfrutarmos dessa relação.