“As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante.”
Karl Marx, em A Ideologia Alemã (1848)
Se você é assinante do Netflix, abra o aplicativo da plataforma e procure pela sessão de Documentários.
Dê uma olhada atenta nos títulos, sobretudo naqueles de produção original do streaming. Repare nos temas que abordam, e como parecem fazê-los. Se possível, assista alguns destes conteúdos e depois reflita sobre eles, em conjunto.
Todos parecem seguir um roteiro de produção bem delimitado: narrativas que abordem polêmicas da atualidade de maneira rasa, com materiais de apoio genéricos (falas em off de narradores, fotos e vídeos de bancos de imagem, cortes de cenas de filmes sindicados), e pouca opinião de especialistas no assunto.
Não se trata de uma tentativa de se criar um registro histórico em uma película. É propaganda, que utiliza o espaço do entretenimento para difundir ideais entre populações cada vez mais difusas e céticas de instituições sociais como a mídia ou o governo.
Curiosamente, a grande maioria dos temas é de viés liberal. Aqui cabe ressaltar que o liberalismo em questão se refere a realidade dos Estados Unidos, que emprega o termo para definir uma política do Partido Democrata.
Portanto, são tópicos caros ao que há de mais à esquerda do campo político deste país. Calha, no entanto, que grande parte do mundo importa a cultura de massa dos yankees.
Daí criamos uma espécie de kit progressita, onde estão todas as pautas de esquerda, com suas respectivas análises e respostas. Percebe que a própria lógica de uma corporação multinacional pautar o que seria interessante para uma agenda libertadora e autônoma é contraditória, correto?
Como que poderíamos criar o imaginário de um campo progressista no Brasil se nosso repertório é construído sob uma lógica utilitária dos EUA?
O tópico corrobora com um tema presente nas reflexões deste site. Não há liberdade no modelo de comunicação da internet como lidamos até o momento.
Vivemos na liberdade de empresa. Enquanto redes como o YouTube censuram debates dignos pela desmonetização, parte do setor crítico está batendo palmas para a mente aberta e para a mudança de mundo empreendidas por algumas bigtechs do entretenimento em seus conteúdos.
Por fim, vale lembrar: o show business adota esta agenda apesar do que qualquer um acha – trata-se de um cálculo de segurança econômica. Se rendesse mais ou ajudasse na manutenção de sua posição no mercado, estariam aplaudindo ações da extrema-direita pelo mundo inteiro.
Abaixo, separei algumas das produções que se encaixam nesta descrição: