Novidades de museu

Robert Downey Jr. voltará a estrelar filmes da Marvel Studios, agora como um vilão de um novo arco de histórias. O objetivo parece ser recuperar popularidade e prestígio midiático, perdido após uma percepção geral de queda de qualidade nos filmes e séries da produtora.

É um movimento que aponta no sentido da crise criativa e econômica que a indústria do cinema enfrenta há quase uma década. Cada vez mais estúdios investem majoritariamente em remakes, continuações, reboots e histórias paralelas de grandes propriedades intelectuais.

A prática de se refazer obras do passado não é nova no cinema americano. Os produtores americanos se alimentaram fartamente de filmes antigos com novas roupagens, tecnologias e atores da moda. É sempre uma decisão boa para os negócios. Quando utilizada em certa dosagem, a nostalgia de recuperar um certo passado de fato gera curiosidade e popularidade em obras.

Seja refazendo filmes ou recontratando atores de peso, percebe-se que Hollywood sistematizou a busca por símbolos do passado para criar coisas novas. Extrapolou os níveis de homenagens, ou buscas por revitalizar enredos consagrados. É pura exploração de um passado idealizado, que tem grande potencial lucrativo e parece seguro.

A diferença entre a cura e o veneno está na dosagem, no entanto. Esta produção massificada, em série, sem um olhar crítico atualizado, passa a cansar o público, que não enxerga valor criativo no que a indústria cultural entrega.

Estas decisões pouco criativas sinalizam também que a contexto financeiro da indústria pede cautela constantemente. Como já comentado em texto anterior, o mercado de cinema norte-americano vem diminuindo, e a cada dia que passa a conta tem maior potencial de não fechar. O modelo dos streamings, visto como farol da indústria, ainda não é plenamente lucrativo e sólido. Faz sentido, numa visão pragmática, que investidores e gestores das produtoras orientem seus negócios a explorar propriedades intelectuais sólidas, testadas.

No fim, temos uma interdição da busca por novas histórias. O pensamento criativo, que poderia elaborar reflexões simbólicas sobre nossos tempos, fica interditado por uma indústria conservadora. Não é por acaso que se vive uma crise criativa na maior indústria de cultura do século XX.

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