A briga entre projetos neoliberais

Um novo mandato de Donald Trump à frente da presidência EUA, entre 2025 e 2028, tem sólidas chances de acontecer. É o que dizem as pesquisas de intenção de voto, que apontam um empate técnico em quase todos os estados-pêndulo e no âmbito nacional.

É provável que a decisão fique na mão de algumas dezenas de milhares de eleitores, em algum estado-pêndulo como a Pensilvânia, Arizona ou no Wisconsin. Está nas mãos destas pessoas uma decisão que definirá a intensidade da política neoliberal dos EUA nesta metade inicial do século XXI.

No nível doméstico, o projeto de governo de Trump prevê mais neoliberalização dos mercados estratégicos, como de tecnologia ou automobilístico, tornando-os ainda mais desregulamentados para multinacionais bilionárias. Isto aumentaria ainda mais a força destas corporações, dentro e fora do mercado dos EUA, acelerando ainda mais a instituição de um tecnofeudalismo: um sistema socioeconômico mais reacionário, que a grosso modo exclui os estados nacionais da equação política, recuperando uma noção de servidão do trabalho e perdendo o horizonte de direitos civis da população.

Por falar em direitos civis, Trump já afirmou que atuará de maneira ainda mais dura em relação a políticas públicas para imigrantes e minorias nacionais. São ações coerentes ao projeto de expansão de uma visão neoliberal na política e na economia. Ambas se auxiliam e alimentam um cenário político cada vez mais positivo para uma elite, enriquecida pelos mercados especulativos das bolsas de valor, e que empobrece a grande maioria da população, relegando-a a uma situação de vulnerabilidade crescente.

No âmbito internacional, Trump deve diminuir a interferência dos EUA na guerra da Ucrânia. Sua promessa é de esvaziar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), hoje fortemente liderada pelo país norte-americano. Seria um duro golpe nos esforços de contenção das ações russas no leste da Europa. Levaria os países do velho continente a buscarem (ainda mais) investimento militar, que já vem crescendo entre este grupo nos últimos anos.

Já no leste da Ásia, Israel ganharia um reforço de peso no endosso de suas ações de guerra. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu governo de extrema-direita teriam ainda mais facilidade para continuarem mantendo um plano de ações violentas e de extermínio na Faixa de Gaza, no Líbano e em outros rivais regionais.

Estes processos de avanço da lógica neoliberal também ocorreriam em um potencial governo de Harris. Porém, com menor associação às megacorporações, que veriam regulamentações e maiores taxações ocorrerem em seus mercados. Também é parte do projeto democrata pensar em políticas de bem-estar das populações minoritárias, além de federalizar entendimentos sobre pautas de costumes, como legalização do aborto ou do uso de substâncias psicoativas.

Portanto, não se trata de uma escolha que gerará paradigmas sociais tão distintos. São projetos muito diferentes, baseados em lógicas antagônicas, mas inseridos em um mesmo modo de pensar e produzir: o capitalismo digitalizado do século XXI.

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