O que será do cinema de autor?

A história que rodeia o último filme do diretor Francis Ford Coppola, Megalopolis, fala bastante sobre a Hollywood contemporânea. Lançado há pouco mais de um mês nos EUA, se mostrou um fracasso de bilheteria em sua estreia.

Os comentadores especializados torceram o nariz, e o público não saiu de casa para assistir. Suas notas em sites como IMDB não passam de um cinco em dez pontos máximos. E parece que tentar atribuir o fracasso à qualidade do filme em si seria uma análise distorcida.

Megalopolis foi uma produção de investimento pessoal de Coppola. Um roteiro escrito há mais de quarenta anos, que sempre acabou engavetado e adiado na lista de prioridades do diretor. No fim, decidiu que usaria sua fortuna para bancar a produção. Assim, não teria, a princípio, amarras de mercado que visariam prioritariamente o retorno da popularidade nos cinemas.

Sem apoio das grandes empresas da indústria do cinema, o filme também perdeu em divulgação. Viu-se pouco material sendo trabalhado nos variados tipos de publicidade que este mercado costuma usar. Isto refletiu num público pouco engajado, sobretudo em tempos de streaming sendo mais prático e barato que uma ida ao cinema.

Este fracasso de público pode ter, como dito antes, uma história a contar sobre a indústria americana de cinema. Ela proporcionou a certos diretores, mais artísticos e talvez vanguardistas, uma carreira estável e rica, mesmo sem a necessidade de fazer grandes bilheterias em todos os seus filmes. Coppola, Scorsese, Woody Allen e outros puderam ousar, sem que isso necessariamente comprometesse sua estrutura de produção.

Hoje vemos Poderoso Chefão como um clássico, mas em sua produção era visto como uma aposta. Aliás, não havia nem mesmo uma expectativa pelo seu lançamento. O mesmo Coppola de Megalopolis, cinquenta anos mais jovem, sem seu currículo que conhecemos hoje, o produziu numa Hollywood que levava milhões de americanos aos cinemas regularmente.

Hoje o capital gerado pela indústria de cinema dos EUA se concentrou em grandes conglomerados de mídia. Não são vistos mais como a grande indústria do entretenimento americano. São fortes, é claro, mas competem em atenção com redes sociais, streamings de música, YouTube, e séries e filmes de todos os países imagináveis.

Além disso, os diretores de filmes autorais, como se tornaram popularmente conhecidos, eram vistos como verdadeiros faróis de cultura e debate. Assim como alguns músicos o eram, ou escritores também. Hoje, o farol das indústrias criativas são relatórios de estatísticas que modelam um produto perfeito. Os ‘vanguardistas’ perdem espaço, ao menos no curto prazo, para uma idealização.

Talvez o espaço do mercado autoral será para um público restrito, em streamings específicos, que já têm como público quem deseja este tipo de conteúdo. Mas na equação social, a indústria acaba por perder ao não ter esta cena em seu mainstream, às vezes forçando o desavisado a entrar numa sessão de um filme que não conhece.

Compartilhe: