Contra a correnteza, surge uma pauta progressista

O PSOL conseguiu, neste novembro de 2024, fazer o que partido de esquerda nenhum teve êxito em realizar em bons anos: pautar o debate nacional com solidez. O motivo é trabalhista – redução da escala seis por um de trabalho. O projeto de emenda à Constituição, de autoria da deputada Erica Hilton, já passou das 200 assinaturas na Câmara dos Deputados e agora pode tramitar na Congresso. 

O timing aqui chama grande atenção. O Brasil não vem eleições que demonstraram apelo popular ao discurso de esquerda. Na realidade, na maior parte das grandes cidades brasileiras, os progressistas vêm perdendo muito espaço, tanto no legislativo quanto no executivo. Manaus, por exemplo, elegeu em outubro uma câmara municipal exclusiva de vereadores reacionários. As maiores votações do país foram em peso pela extrema-direita.

O mundo caminha no mesmo sentido. Donald Trump e Elon Musk reassumiram o poder nos EUA, enquanto na Europa a Alemanha está com um governo rachado, com uma repentina potencial eleição se formando para fevereiro, e que já tem expectativa de grandes votações no Alternativa Para a Alemanha (AFD), o partido alemão de tendência fascista. Há tantos outros exemplos que poderíamos listar por longas páginas. 

Este cenário parece ser, inclusive, resultado da falta de horizontes utópicos, sonháveis, vindos dos campos da esquerda. Mesmo os governos eleitos com plataformas progressistas, como o caso do terceiro mandato de Lula (PT), patinam em lidar com as demandas e anseios populares em uma conjuntura neoliberalizada, de reformas sistêmicas e arrocho econômico constante nas políticas públicas nacionais.

Completando o quadro adverso, o governo brasileiro, de raiz muito próxima ao trabalhismo, ainda não abraçou a pauta. Não se sabe nem se deve abraçar completamente, é fato. Seria uma lástima se um dos mais representativos governos do sul global deixasse uma pauta como esta sem apoio institucional. Tanto pelo valor que ela tem para sua base, pelos valores que criaram o partido que governa o país, quanto pelo potencial de colocar o Brasil na dianteira das discussões do trabalho neste século.

O projeto se engrandece por nascer sob esta realidade. Não por ser uma vitória certa – muito pelo contrário – já se trava uma batalha política tremenda pela contenção da pauta em termos populares. Mas por mostrar que é possível abrir horizontes políticos progressistas, que olhem para o trabalho pelo lado do trabalhador, é claro. 

As ideias de futuro não podem estar somente nas mãos dos mercados e das políticas econômicas de contenção de investimento público para as bases. É preciso criar discussões, gerar movimentos, criar pautas que serão conversas de bar, de padaria, no táxi ou no ônibus. Isto é política.

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