A guerra cultural que testemunhamos rotineiramente no Brasil ao longo dos últimos anos ganhou um capítulo novo. Neste início de mês de fevereiro, diferentes quadros do governo Lula circularam com um boné azul, com a frase “O Brasil é dos brasileiros” estampada no centro do acessório. Se trata de uma literal ação de marketing do novo chefe da Secom da Presidência da República, Sidônio Palmeira, publicitário que busca oxigenar a comunicação do governo com o público geral.
Os bonés de cunho político ganharam grande relevância na última década com o movimento Make America Great Again (MAGA), ainda na primeira campanha presidencial do hoje reeleito presidente norte-americano Donald Trump. E, de fato, parece ser o símbolo radical do que é esta renovação da extrema-direita no mundo: simplificadora da complexa realidade política da atualidade, idealizadora do passado e categórica em apontar o caminho do futuro.
Nenhuma destas premissas temporais que a frase estabelece parece ter nexo com a realidade dos EUA em sua história. Trata-se de um país com forte histórico de segregação social, institucionalizada até a década de 1960, com sérios problemas de distribuição de renda e fornecimento de serviços públicos básicos para toda sua população. Portanto, o que há de tão grande que deveria ser recuperado para o futuro?
A tática de comunicação deste movimento político passa por moldar uma percepção da realidade que espalhe mentiras, gere medo, crie espantalhos políticos e defina inimigos a serem atacados cotidianamente.
Voltando ao contexto nacional. Vemos um governo que se identifica como democrático e progressista embarcando na mesma lógica. A frase ‘O Brasil é dos brasileiros’, ainda que pareça inofensiva, traz um nacionalismo tacanho. O Brasil é de fato dos brasileiros. Mas quem são os brasileiros? Somos produto da migração de massas empobrecidas de diversos locais do mundo em busca de paz e estabilidade para a vida. Ou mesmo de milhões de escravizados, trazidos a força para cá durante séculos. Estaria isto contextualizado na frase?
Se um imigrante que chegou ao Brasil para fazer sua vida leia a frase no boné do presidente Lula, o que ele pensará, sobretudo no contexto mundial? Que é uma forma de reforçar a soberania nacional ou de comunicar uma ideia sectária, excludente e nacionalista? A batalha dos bonés parece reforçar que estamos inseridos numa realidade política empobrecida de ideias, confusa pelo barulho criado nas plataformas sociais e profundamente violenta.