Milei na Europa e o desprezo extremista pelas instituições

O presidente argentino Javier Milei é uma das mais caricatas figuras da extrema-direita na atualidade. Desde seus primeiros aparecimentos na mídia portenha, o economista marca sua identidade como um verdadeiro outsider da norma estética institucional da política.

Mesmo que não chegue a ser uma novidade em um mundo pós-Trump e Bolsonaro, Milei ainda conseguiu surpreender e ser eleito com certa folga numa Argentina ressentida e traumatizada por tantas décadas de crises econômicas.

Seu mandato nestes primeiros seis meses de governo ficaram marcados por uma certa dificuldade em colocar em pauta suas medidas drásticas, como o fechamento do Banco Central Argentino. Ele também teve de se dobrar a líderes regionais mais robustos, como o presidente Lula, sobretudo quando a agenda é econômica. Neste caso, a dependência ao Brasil impede que seu ódio político impere nas relações bilaterais.

Em meio a tanta controvérsia política, fica claro que especialidade de Milei é tratar com seus pares ideológicos pelo mundo inteiro. Autoridades dos países que visita ficam, inclusive, em segundo plano. Em menos de um ano de mandato, esteve mais de uma vez nos EUA para encontrar nomes do Vale do Silício. Agora, em turnê pela Europa, desfilou falta de diplomacia ao evitar encontros com representantes espanhóis, trocando-os por figuras de destaque da extrema-direita local.

O total descrédito de Milei pelos representantes eleitos dos países em que passa parece ser uma marca comportamental da internacional fascista que se forma no mundo. Suas obrigações, decoro e diálogo são devotados exclusivamente aos seus pares ideológicos.

Relembremos, por exemplo, quantas relações bilaterais brasileiras foram seriamente afetadas pelos quatro anos de governo Bolsonaro. Pela intransigência dos diversos negacionismos e pela elevação de conspirações ao nível de política de estado, por exemplo.

Nos EUA, por exemplo, Donald Trump fez o que pôde para esvaziar o poder político da OTAN. Ele acredita que seu país oferece mais proteção ao bloco do que recebe benefícios dos outros países signatários. Além disso, foi responsável por impôr sérias restrições econômicas à China, sobretudo no mercado de telecomunicações e tecnologia.

Vemos que os líderes de extrema-direita, em sua encarnação do século XXI, assimilaram que para suprir os desejos antiestablishment de suas populações domésticas, era necessário um conjunto de ações totalmente fora das convenções e normas da política. A busca de consenso, estabilidade e pouco impacto das decisões está fora de cogitação. Não fazem parte nem da lógica, nem da estética deste grupo.

Certamente não parece que a agenda de austeridade econômica de Milei trará estabilidade e prosperidade aos argentinos. Pelo contrário, só encolheu o produto interno bruto do país e causou mais empobrecimento. Se esta realidade se imporá ao presidente que vive pregações aos colegas internacionais, veremos.

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