O diretor norte-americano Woody Allen tinha 36 anos quando Bananas (1971) estreou no circuito cinematográfico de Hollywood. A história, de escrita e dirigida por ele, mistura uma sátira do cenário geopolítico latino-americano com mais um enredo de seus enredos cotidianos novaiorquinos.
Neste filme, o diretor não se privou do uso de elementos fantásticos e surreais para criar sua história. Pelo contrário, é perceptível um interesse pela temática surrealista por parte de Allen, não só neste filme como em outras de suas obras subsequentes.
Aqui, a obra começa e termina com coberturas jornalísticas de televisão em situações distintas. Na cena de abertura, um repórter americano, com cacoetes dos apresentadores de canais esportivos, cobre um golpe de estado na Ilha de San Marcos, um pequeno e fictício país da América Central. O filme se desenvolve em volta deste conflito político, que faz clara alusão à revolução cubana.
Na ponta norte-americana da história, conhecemos Fielding Mellish (Woody Allen), um novaiorquino frustrado e carente. É, inclusive, sua busca por amor e atenção feminina (um traço comum nas protagonistas do diretor) que desenvolve o enredo e conecta as duas histórias.
Detalhes da trama à parte, vamos à cena final. Vemos o filme se encerrar com Fieldling e seu par romântico, Nancy (Louise Lasser), deitados em uma cama, num momento pós-sexo, sendo entrevistados pelo mesmo repórter, sob a mesma estética de cobertura ao vivo. O jornalista os faz perguntas com verniz técnico, como se escrutinasse dois atletas. O casal responde no mesmo tom, analisando cada um o desempenho do respectivo parceiro na cama.
A espetacularização é o alvo de Allen nesta história, tanto na escala privada até alcançar os conflitos geopolíticos. A indústria do entretenimento busca entregar mensagens pasteurizadas: seja na cobertura empobrecida de uma guerra civil na América Central, ou até mesmo na exploração da intimidade de um casal, tratada com rigor esportivo.
A mensagem, após mais de 50 anos, seguiu atual. O mundo das redes sociais transformou todos os momentos em espetáculos. Bares possuem áreas instagramáveis, shows são vistos e gravados nos telefones de toda a plateia, que esquece de olhar, a olho nú, para o palco. Pessoas retratam cada detalhe de suas vidas em redes, com o intuito de construir alguma identidade, mesmo que por 30 segundos, para dar opinião em mais um golpe de estado latino-americano.