Reportagem exibida no Fantástico do último domingo (20), mostrou os esforços do governo finlandês em combater a propagação em massa de desinformação pela internet no país. Mostrou-se que poder público local encara o problema como um assunto de educação pública, e deve ser atacado em sala de aula, de maneira multidisciplinar.
Chamou a atenção o fato da TV pública do país, em sua editoria infantil, também abordar o assunto em detalhes com seu público. Os programas tratam do assunto com seriedade, mostrando a crianças e adolescentes como vídeos de deepfakes agem.
O resultado tem sido grande popularidade entre o público-alvo. Diferentemente do que certo senso comum pode pensar sobre um programa infantil tratando de um assunto a princípio chato, a reportagem mostra crianças fãs do programa, tietando a apresentadora um momento de contato com público.
Aparte as discussões de métodos de combate a desinformação mundo afora, a história contada desafia a noção de entretenimento popular que levamos como verdadeira, definitiva. Temos um senso comum muito bem definido sobre as características que tornam um programa popular, sobretudo entre o público infantil.
E este arquétipo do produto de entretenimento potencialmente popular costuma isolar qualquer aspecto crítico, reflexivo, de produções voltadas ao grande público. Isto solidificou um entendimento de que o entretenimento não pode ser crítico nem elucidativo: deve ser raso, simplório e investidor de lugares-comuns na mensagem propagada.
No entanto, não há correlação entre a densidade crítica de um produto de mídia e seu engajamento com o público. Há na realidade uma construção histórica e social que ajuda a moldar como recebemos filmes, livros ou programas de TV.
É bem provável, por exemplo, que o programa infantil em questão tenha boa recepção entre seu público porque o assunto é debatido em sala de aula, universalmente. O conteúdo não só é assimilado como se torna parte do caldo cultural local. Isto, por sua vez, molda o que encaramos como algo divertido, que nos desperta interesse.
Educação pública, de base, que compreenda e aborde o mundo em que vivemos, parece ser sempre a solução para os mais diversos desafios sociais da contemporaneidade.