A facistização ganha nos EUA

O mundo pisou fundo em direção a facistização da política após ser anunciada oficialmente a vitória do republicano e ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (6). Ele ultrapassou a barreira dos 270 delegados necessários para ser eleito ainda na primeira madrugada de apuração, diferentemente do que visto em 2020.

Trump conseguiu resultados expressivos nos principais estados pêndulo: Wisconsin, Michigan, Pensilvânia e na Carolina do Norte. Uma lavada republicana em estados do cinturão enferrujado. Uma região dos Estados Unidos profundamente afetada pelo processo de desindustrialização, que se acelerou no país desde a década de 1980. A perda de postos de trabalho para outras regiões do mundo, mais competitivas num capitalismo internacional e integrado, gera há quase duas gerações um caldo de ressentimento e desesperança em parte da população destes locais.

Trump conseguiu se manter relevante após oito anos de sua primeira eleição. Em quase uma década, pouco mudou em termos da confiança de seu eleitorado. A eleição de 2020, contra Joe Biden, se mostrou mais como uma reação do eleitorado democrata em meio ao momento de pandemia, que se mobilizou em votação e conseguiu superar o republicano. Na realidade, sua base de votantes não teve tendência de queda em nenhum momento.

Já o partido democrata não conseguiu evoluir em entender e atender anseios e demandas da população americana. Apostou fichas num discurso de redenção da democracia americana, um tópico pouco material, que perdeu em relevância na lista de prioridades do eleitorado nacional. A total incapacidade de Joe Biden em apresentar mudanças estruturais que beneficiassem a população depauperada também é forte influenciador do resultado.

Agora, Trump deverá ter um cenário dos sonhos para governar a maior economia do mundo. Tem o executivo, deve ter domínio partidário das casas legislativas e a totalidade da Suprema Corte sob seu comando. Em termos institucionais, parece claro que o presidente terá um cheque em branco para colocar em prática suas políticas.

É preocupante o cenário humanitário que pode estar por vir. Trump tem planos violentos para imigrantes sem documentação. Também planeja reduzir ou extinguir os parcos programas sociais de auxílio à população carente norte-americana.

Por outro lado, sua legislatura deve ser de grande valia às bigtechs americanas, que aproveitarão de uma redução na carga tributária e nenhuma regulamentação de suas atuações. Elon Musk, o bilionário da Tesla, grande apoiador da campanha, deve ser o responsável pela por uma agência de (não)regulamentação de empresas de tecnologia.

Em âmbito internacional, a eleição de Trump deve acarretar numa corrida armamentista por parte das nações europeias. Há uma grande chance de esvaziamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que expõe a Europa contra rivais como Vladimir Putin.

Talvez a eleição norte-americana deste fim de 2024 signifique o mais profundo rompimento com a estrutura política internacional que funcionava desde a queda da Alemanha nazista. Sem uma OTAN forte, não há ocidente organizado em termos políticos nem militares. Se a queda do pacto de Varsóvia representou o fim de um ideal político soviético, levado pelas condições materiais que se impunham. Hoje, o mesmo vento parece bater no ocidente.

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