A maioria global assistiu, ao longo da última semana, a um verdadeiro desmonte das regulamentações existentes em redes sociais norte-americanas. O movimento está dentro do contexto de apoio do poderoso mercado de tecnologia ao novo governo do republicano Donald Trump nos EUA, iniciado no último dia 20.
O cenário de total ‘liberdade’ para disseminação de informações falsas dá grande vantagem, hoje, aos movimentos de extrema-direita em todo o mundo. É sabido que são estas correntes ideológicas que utilizam da desinformação como plataforma de comunicação de seus valores políticos. Portanto, como resultado prático, espera-se que ainda mais pessoas estejam expostas, no mundo inteiro, a todo o tipo de isca política.
Ainda neste conturbado janeiro de 2025, o Brasil passou por uma intensa turbulência causada por notícias falsas. Perfis de lideranças políticas extremistas, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), fizeram dezenas de milhões de pessoas crerem que o PIX, a mais popular ferramenta de transação financeira na atualidade brasileira, seria taxada pelo governo federal. O Executivo optou por recuar na medida, ainda que nada tivesse a ver com taxação da transação digital. Hoje (27), pesquisa de popularidade Quaest aponta queda de cinco pontos percentuais na avaliação do Palácio do Planalto.
Estas plataformas detêm o monopólio da atenção brasileira na atualidade. Como já destacado em texto anterior por aqui, o brasileiro gasta, em média, cerca de metade do seu dia no smartphone: são mais de nove horas diárias em uso do celular, com quase quatro horas dedicados a redes sociais. Também não surpreende descobrir que se trata do país mais vulnerável a desinformação no mundo.
Parece que não resta a países como o Brasil, afetados diretamente pelo impacto das plataformas sociais, nada a fazer senão começar a repensar sua relação institucional com estes meios de comunicação. A imposição de uma regulamentação destas plataformas ultrapassa a discussão de liberdades individuais, idílicas, sobre censura: é um assunto de soberania nacional.
As big techs representam grupos políticos com interesses claros. Um deles é a manutenção de um cenário de instabilidade política em países em desenvolvimento, sobretudo se participantes de grupos como os BRICS. É preciso agir com celeridade. O ambiente digital não é um campo apartidário e apolítico, que trata a todos com isonomia. Ele faz parte de uma realidade material muito bem definida, que não poderia ser mais transparente como é neste início de 2025.