Hoje tomarei emprestado de Nelson Rodrigues o personagem da semana para iniciar esse texto.
Meu personagem é um rapaz que aparece em diversos vídeos de um acampamento bolsonarista em Belo Horizonte. Ele veste verde e amarelo no boné e na camiseta.
Até aí, tudo normal. O que me interessou mesmo foi seu desespero com uma ordem da Prefeitura da cidade, que decretou e desmonte das diversas barracas instaladas na avenida Raja Gabaglia, na zona sul da capital mineira.
Em quase todos os vídeos postados sobre evento, nosso personagem aparece aos prantos. Urra de dor, como se seu mundo tivesse caído.
O que motiva alguém a se sentir tão atingido pelo fim de algo de tamanha inocuidade?
Um movimento golpista que nasceu morto. Que em nenhum momento (felizmente) ensaiou uma virada de mesa. Por todo o país, se ativeram a cantar o hino para pneus, a acender flashes de telefone para os céus em busca de ajuda extraterrestre, e a diariamente comemorar a prisão de Alexandre de Moraes e de Lula.
Preocupa esse sentimento de dor. O personagem da semana se sentia um cruzado, que dotado da verdade divina iria curar o mal da humanidade: o comunismo de Lula.
Quando um sujeito se sente portador de uma verdade indiscutível, o outro se torna um inimigo mortal. E qualquer violência se torna justificada. Afinal, estamos lutando contra o mal encarnado na Terra.
Daí, justifica-se criar listas de comerciantes petistas para sabotá-los, demitir funcionários de esquerda, agredir pessoas na rua. Tudo se torna válido, pois estamos combatendo o bom combate.
O choro de um sujeito ferido em sua luta ilusória do bem contra o mal é sempre dramático. É semelhante ao de uma criança que descobre que a heroica figura paterna pode ser falha. É, portanto, infantilizado.