Está na hora de desafiar uma tosca noção de ‘liberdade’

Quando grupos extremistas estão criando sua cultura de ódio ao outro, costumam eleger pautas que sejam multiplicadoras destes afetos.

Usa-se muito de pseudociência, noticiário falso, e ataques a grupos minoritários, de vertente política antagônica aos fascistas.

E há a interessante noção das defesas de conceitos universais. São abstratos, inspirados em visões romantizadas do passado, tem um grosso verniz moral e acabam por ser o motor central dos conflitos políticos digitais contemporâneos.

Tento exemplificar. Os setores de extrema-direita da política nacional criticam a regulamentação das redes sociais sob o argumento de perda das liberdades individuais. Uma vez tendo poder regulatório, o estado calaria seus opositores e transformaria tudo em distopia Orwelliana.

Fica aqui uma provocação. Será que nestes 523 anos de história multicultural, somente agora assistimos a derrocadas desta liberdade tropical? As garantias democráticas estavam sendo asseguradas a todos desde sempre?

Sejamos honestos. Não há e nem nunca houve estado de direito no Brasil. Enquanto áreas marginalizadas tiverem dados socioeconômicos de países em guerra civil, enquanto milhões vivem abaixo da linha da pobreza, não há o que se falar em boa gestão das garantias individuais.

O caso da regulamentação das big techs não foge à regra. Não há neutralidade, isonomia ou liberdade nas redes sociais. Esta ilusória noção esconde a manipulação dos afetos do público por parte dos algorítimos. Fazer com que os usuários sintam ódio e ressentimento gera mais engajamento e tempo de consumo nos apps.

Não há nenhum traço de liberdade na estrutura das redes, principalmente no que tange o produtor de conteúdo. A constante e potencialmente crescente desmonetização de temas polêmicos dá o tom do que será o futuro: é mais barato cortar o mal pela raiz que moderar o debate.

Com esta conjuntura pintada, o que levaria a crer que enfrentar as redes em solo nacional é um ato de atendado à liberdade?

Por isso, se torna cada vez mais urgente um enfrentamento crítico a estas lógicas. É preciso afirmar que a noção de liberdade da extrema-direita, de fato em risco por qualquer potencial regulamentação decente, não serve para debates públicos. É inócua, vazia de sentido real e prático.

O problema que devemos enfrentar, este sim real, é o discurso de ódio e as fábricas de notícias falsas. Isto só pode ser feito com a criação de um ambiente rico para o desenvolvimento midiático pulverizado, plural, com moderação ativa de qualquer plataforma que ofereça espaços de conteúdo. E por fim, ação efetiva do poder público em caso de atitudes criminosas.

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