Abri o Twitter a pouco e me deparei com uma postagem do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes:
O chefe do Executivo municipal pede aos seguidores que o ajudem a reconhecer um sujeito. Uma filmagem de baixíssima resolução registra o ocorrido.
A proposta da postagem, voluntariosa e criativa a primeira vista, atropela decoros e crias prerrogativas perigosas. Há, ou deveria haver, um devido processo para investigar o crime de pichação.
Este tipo de ação comunicativa demonstra como as figuras políticas encaram as redes: um vale-tudo alheio ao decoro da realidade. Como se o virtual tivesse sua própria dinâmica legal, que retorna a um estado de luta indiscriminada — quase pré-hobbesiano.
Perceba que o comportamento não difere em nada do que se critica na desinformação. Inclusive, fatos e eventos reais podem ser utilizados na construção de uma narrativa falsa.
Este tipo de estratégia comunicativa se tornou popular entre agentes políticos, principalmente nas arenas regionais, aonde a fiscalização/moderação dos conteúdos é quase inexistente. Este ambiente foi perfeito para a criação de figuras caricatas, virtuais, que sugerem soluções simples e violentas para problemas complexos.
Estes agitadores, outsiders que pouco ligam para as regras do jogo, não se preocupam em pôr em cheque a estabilidade do sistema. Cativam o público com a ilusão de uma solução fácil e rápida.
Assim, pessoas com aspirações autocráticas chegaram a presidência da república de grandes democracias nos últimos dez anos. Por conseguirem manipular os afetos de uma grande massa de pessoas pauperizadas, sem estabilidade ou perspectivas.
Assim, criamos um ambiente cada vez mais agressivo, que interdita o debate público e põe o sistema democrático em risco.
Não quero dizer que o prefeito do Rio de Janeiro esteja em trincheiras antidemocráticas. Figuras democráticas por vezes embarcam em estratégias como esta por também serem produtos deste tempo.
E a quem pretende analisar o cotidiano, fica aqui o registro. Responsabilidade e decoro nas redes para ontem.
