John Lennon gostaria de ser emulado por uma máquina?

Mesmo após mais de cinco décadas de seu fim, os Beatles inauguraram as polêmicas entre indústria musical e inteligência artificial. Paul McCartney anunciou o lançamento da música nova da banda. Segundo o baixista, a produção contará com vocais de John Lennon restaurados com auxílio digital.

A base deste projeto são gravações vocais de John em condições precárias. A inteligência artificial entra em cena “restaurando” a qualidade do arquivo. Assim, seria possível lançar a canção em qualidade de estúdio.

Emulações como esta já são populares no YouTube. Há os mais variados tipos de reinvenção sendo feitas e creditadas a artistas como Freddie Mercury, Frank Sinatra e Michael Jackson.

Agora, a pauta chega ao nível industrial. E como indústria, há de se ter compromisso com direitos e consentimentos.

John Lennon gostaria de ter seu vocal emulado por um computador? Não temos respostas. Se a pergunta fosse feita ao artista em seu tempo de vida, soaria como piada talvez.

Creio que o artista veria a empreitada com desconfiança. Afinal, sua grande marca enquanto personalidade foram posições críticas às mais diversas hegemonias políticas do mundo, sobretudo do ocidente.

O que nos levaria a crer que Lennon seria amigável ao fato de sua voz ser restaurada e emulada por uma máquina para se tornar mais mercadoria? Já que as respostas não ficam claras, seria respeitoso que seus amigos, companheiros de trabalho e familiares não levantassem esta ideia.

A indústria musical tem aqui uma oportunidade para emplacar a inteligência artificial no ramo. Os Beatles são muito grandes e distantes do mundo contemporâneo para despertarem críticas apontando um comportamento irresponsável no projeto. Os olhares são de nostalgia e encanto com este produto larger than life.

Se conseguirem estabelecer um precedente amigável para gravações de cantores falecidos em troca de royalties para familiares, por exemplo, é um bom negócio. As possibilidades de usar e abusar das grandes vozes do passado são infinitas.

Por isso, a solução de anistiar as vozes de falecidos cantores parece muito distante de ser uma realidade. Seria um caminho ético de respeitar quem não pode mais decidir.

Há mais perguntas que respostas neste assunto. Não sabemos ainda qual é a extensão que este tipo de conteúdo terá na indústria. Será que produções ainda mais artificiais, sem sequer uma base original, serão vendidas oficialmente? Este produto terá apelo comercial?

Aguardemos.

Compartilhe: