O futebol brasileiro na esteira de produção

O futebol nacional vive um êxodo desde os anos 1980. Em quarenta anos, a dinâmica de transações de jogadores para o mercado europeu deixou de ser uma exótica aventura de craques para ser o business plan dos jogadores profissionais.

Veja bem: não é mais um sonho. É um trabalho – planejado, traçado com cuidado por empresários, assessores, departamentos médicos e cartolas.

A geração que representou o Brasil na Copa de 1982 foi, a grosso modo, pioneira no assunto. Falcão, Toninho Cerezo, Zico, Júnior, Sócrates e outros foram parar na Europa, sobretudo na Itália. Alguns se adaptaram, outros experimentaram uma saudade tão forte de casa que logo voltaram ao campeonato nacional.

Se expandirmos para a América do Sul, Diego Armando Maradona se transferiu em seu auge para o Napoli, aonde é devidamente reverenciado.

É certo, no entanto, que a normalização do destino europeu aos jogadores sul-americanos foi bem-sucedida. Eles partem cedo, afinal de contas é importante que se colha cedo o fruto do pé, para ser treinado e disciplinado em um modelo rigoroso de conduta esportiva.

É tão precoce que nem se tornam pauta da discussão nacional. Não reconhecermos seus nomes, quando surgem em eventuais convocações da seleção brasileira.

Hoje, no início de 2024, as páginas esportivas estampam uma nova: Adryelson e Lucas Perri, titulares do Botafogo, embarcaram rumo a França, o novo destino dos atletas. Eles assinaram contrato com o Lyon, numa operação que pode custar cerca de 20 milhões de euros, apura o GE.

Ambos os times, propriedade do empresário John Textor, formam uma linha de montagem, portanto. Pega-se a matéria-prima aqui, lapida-se fora, e entrega ao mercado europeu com lucros fabulosos.

É um caminho comercial conhecido dos clubes brasileiros. Todos negociam com o mundo há anos. No entanto, só agora começamos a vê-los como uma mera engrenagem em esteiras internacionais de produção futebolística.

Dinheiro não costuma faltar. Há décadas que o capital de oligopolistas das mais diversas nacionalidades alimenta os cofres de times de todos os tamanhos. Grandes, médios e pequenos têm sua parcela nessa boquinha, financiada por petróleo e outras commodities do leste europeu e do oeste da Ásia.

Esse capital inunda o mercado e respinga aqui. O caso mais direto talvez seja o Bahia, pertencente ao grupo detentor do Manchester City. Também será um dos satélites internacionais, para encontrar novas commodities e mandá-las assim que possível ao centro econômico.

No mundo contemporâneo nada escapa a mercantilização. Mas não se trata de criar mercados locais. A lógica de exploração de qualquer mercadoria, até jogadores de futebol, é de se criar grandes esteiras transnacionais.

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