A Europa escolhe se fragmentar ainda mais?

O fim de semana foi de mais uma derrota para o projeto de integração da União Europeia. Dentre as principais forças políticas do continente, somente a extrema-direita cresceu, saltando de 16,7% para 18,1% do eleitorado nos 27 Estados votantes.

A direita democrática encolheu sua participação geral, de 39% para 36% das cadeiras. A esquerda também recuou, de 25% para 23% e, por fim, os verdes tiveram o pior revés, saindo de 10% para 7% dos eurocongressistas.

As variações podem parecer uma acomodação estabilizada de forças dinâmicas. Porém, quando se olha em perspectiva, percebe-se a fragilização não só de alguns grupos, mas sobretudo de seus projetos políticos outrora hegemônicos no cenário internacional.

O bloco europeu vem sofrendo seguidos reveses desde 2016, ano do Brexit. Foi, juntamente à eleição de Donald Trump nos EUA, o primeiro sinal da onda reacionária que vemos dominar os parlamentos do velho continente. Um sonoro ‘não’ de considerável parte da população europeia a um plano de integração continental, que desde os anos 1990 até meados da década de 2010, parecia ser hegemônico.

O crescimento da extrema-direita cria um cenário de maioria simples para aprovação de legislações conservadoras e isolacionistas. Assim, pode ter sido chocado neste fim de semana o filhote de serpente a picar a política europeia. Não seria estranho um cenário de polarização que levasse a direita democrática a se unir aos neo-fascistas. Com a faca no pescoço domesticamente, tendem a se render rapidamente e servem de trampolim para conquistas de mais cadeiras extremistas num próximo termo.

Consequentemente, tal coalizão abre portas para o enfraquecimento do bloco, e consigo mais pás-de-cal sobre um projeto de globalização baseado nas dinâmicas neoliberais de produção e socialização. Três em cada quatro sentem que terão queda na qualidade de vida ao longo de 2024, número que se mantém ao longo das pesquisas nos últimos anos.

De fato, a concentração de riqueza bate recordes históricos. Não é estranho portanto que o eleitorado busque por saídas. Por quê, no entanto, não vemos a esquerda se posicionar como uma criadora de novas formas de viver, sobretudo na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina?

Talvez a necessidade de ocupar o espaço defensor da democracia representativa em diversos países colocou as esquerdas nas cordas. Numa luta injusta, é verdade. Pois quando se luta contra golpes institucionais, reformas econômicas neoliberais, produção de notícias falsas por gabinetes do ódio e diversas outras ferramentas de destruição da extrema-direita, buscar a manutenção das instituições é recorrer por sua existência.

No entanto, o resultado deste jogo político é evidente pelas sucessivas derrotas do progressismo liberal. Um projeto político-idílico de criar uma hegemonia narrativa acerca sobretudo da globalização. Que no fim do dia não passa de uma produção em escala global, que não só empobrece os países explorados, mas também joga contra sua própria população. E é daí que nascem as retóricas de Le Pens, Melonis e Trumps.

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